Os últimos momentos de Cristo com os seus discípulos na terra foram marcados pela ênfase dada por Ele à necessidade de sua igreja continuar sua obra de anunciar as boas novas do evangelho após sua ascensão para junto do Pai. A ordem é clara: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15); “… fazei discípulos de todas as nações… ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt
28. 19,20). Cumprir essa ordem de Cristo, no entanto, não é tarefa simples. Qualquer pessoa ou igreja que se proponha a cumprir fielmente o Ide de Jesus precisa superar uma série de desafios, dentre os quais aqui destacamos:
1) O Desafio da motivação:
Sendo a pregação do Evangelho uma atividade tão espinhosa e, por vezes até perigosa, não há como realizá-la legitimamente sem uma motivação adequada. Alguém poderia dizer: mas há quem pregue o Evangelho com interesses escusos. Isso é bem verdade, mas a pregação quando feita a partir de motivações escusas nem de longe se assemelha à verdadeira pregação. Qual deve ser então a fonte da motivação do genuíno pregador das boas novas? O mesmo Apóstolo Paulo que nos proíbe de fazer qualquer coisa “por contenda ou vanglória” (Fl 2.5) nos diz que “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13), ou seja, a fonte da nossa motivação para realizarmos a obra de Deus está no próprio Deus da obra. É a presença de Cristo em nós que nos vocaciona e nos encoraja para a proclamação do Evangelho. Assim, se sua presença não estiver em nós, fatalmente não nos sentiremos impulsionados à pregação, ou se nos sentirmos, não será por motivos legítimos. Da mesma forma, se sua presença estiver em nós, todos seremos, invariavelmente, pregadores e pregadoras do Evangelho, pois como assevera C. H. Spurgeon, “não é possível coexistirem uma alta apreciação de Jesus e uma língua inteiramente silenciosa acerca Dele!”
2) O desafio das finanças:
A obra de Deus é um projeto divino entregue a cargo dos humanos. Deus nos deu essa honra. Sendo um projeto realizado por humanos a propagação do Evangelho requer que se invistam recursos financeiros e é exatamente aí que reside o problema para muitas pessoas e igrejas. Da mesma forma que se comportavam os hebreus instados por Deus no capítulo 1 de Ageu, muita gente hoje se dispõe a investir seus recursos em tudo, até mesmo nos bens e serviços mais supérfluos, menos na realização da Obra de Deus.
3) O desafio do preparo intelectual:
Para tornar a mensagem da salvação passível de ser compreendida pelos homens Deus providenciou a sua codificação em línguas humanas e, assim, sua comunicação depende, dentre muitas outras coisas, da capacidade do pregador de comunicar-se de forma eficiente no contexto cultural das pessoas ou grupos humanos alvos da sua pregação. Muitos defendem a não necessidade do preparo intelectual dos pregadores alegando que Deus pode usar qualquer um, afinal de contas, dizem muitos, “Ele usou até uma jumenta”. O poder de Deus é ilimitado e Ele realmente pode usar qualquer pessoa, mas é do interesse dele que nos preparemos o máximo possível para que possamos servir-lhe da melhor forma possível. Nunca é demais lembrar que o homem que mais contribuiu para o crescimento e fortalecimento do cristianismo foi o Apóstolo Paulo, justamente um intelectual de vastíssimo conhecimento e refinada cultura. O Evangelho é, como sabemos, a melhor mensagem que alguém pode comunicar a outrem e, assim, ele merece o que de melhor nós pudermos empregar para sua pregação.
4) O desafio do preparo espiritual:
Já dissemos que a pregação do Evangelho é um projeto divino cuja execução foi entregue aos humanos. O fato de ter sido entregue aos humanos não faz da pregação uma tarefa meramente humana, de forma alguma. É o próprio Cristo que nos diz que é o Espírito que convence o mundo (as pessoas) do pecado, da Justiça e do juízo (Jo 16.8), ou seja, a tarefa do ser humano na salvação do ser humano conclui-se na pregação, pois o trabalho do convencimento é tarefa exclusiva do Espírito Santo. Eis a razão maior da necessidade do pregador se preparar espiritualmente para a pregação do Evangelho. Jesus, aliás, não deixou qualquer dúvida acerca da fonte de onde emana o poder necessário à legítima pregação do evangelho. Disse Ele: “… recebereis o poder do Espírito Santo que há de vir sobre vós e (só depois) ser-me-eis testemunhas” (At 1.8).